O INVENTOR DO AUTOMOVESCÓPOLO
MEU SONHO É VOAR
Primeiro Modelo de Avião – Sebastião Francisco – Arujá – Data: 1966 |
A segunda tentativa foi mais aperfeiçoada. Com a utilização de um motor Volkswagen perdeu a direção e atingiu uma mercearia. Novo fracasso, acrescido de enorme prejuízo. Depois deste acidente a polícia decidiu não permitir que Tião testasse os seus inventos. Depois daquela confusão não o deixavam sair às ruas com os seus inventos, teria que aguardar autorização do Ministério da Aeronáutica para voar. Ou pelo menos tentar. O Prefeito de Arujá era o Benjamim Manoel (Beijo) que acreditava na possibilidade de transportar o aparelho até São José dos Campos. Se isso acontecesse, Tião poderia testar seu avião que lhe custou cinco anos de trabalho, e fazia questão de frisar que comprara cada peça.
As soldas do avião foram realizadas numa oficina mecânica da cidade, a balança para as peças foi alugada no açougue. Gastou cerca de cinco mil cruzeiros e para custear essas atividades fazia toda espécie de carreto pela cidade. Quando viajava ao Rio de Janeiro com seu Ford F-600, ano 1959, os guardas cismavam com ele porque dirigia descalço.
Todos pensavam que o avião foi construido de qualquer jeito, colando um ferro no outro, mas isso não aconteceu. As asas pesavam cada uma 20 quilos, tudo certinho, contrabalançado. O avião do Tião tinha ainda sistema de medição de velocidade, direção do vento e controle de direção de luzes. Grande parte do material empregado era proveniente de ferro velho e o bico da hélice era uma tigelinha de alumínio que foi aproveitada de um galinheiro.
Na parte externa do avião estava escrito “Automovescópolo”, termo que Tião encontrou para batizar o seu aparelho. Quanto às razões que justificavam o nome, é que parecia um automóvel. Ele gostava que o chamassem de “Nego Tião das Asas”, e esperava a oportunidade de demonstrar que era capaz de voar.
Sebastião Francisco, “Nego Tião” para os amigos, sempre quis voar. Para isso escolheu o meio mais difícil e construiu um avião no município de Arujá, mas nunca testou o aparelho por não haver uma pista apropriada. A execução do plano levou cinco anos e consumiu cinco mil cruzeiros e ele afirmava que o avião subiria depois que coloca-se gasolina azul, esquenta-se os motores do Automovescópolo e que ganharia o céu de Arujá.
O avião pintado de verde e amarelo tinha faróis de bicicleta, velocímetro de automóvel, seu esqueleto era uma mistura de trapos de alumínio e o leme uma alavanca simples.
Em Arujá onde morava, o povo o chamava de louco varrido, mas de louco não tinha nada, homem simples nunca freqüentou uma escola, mas sabia ler e escrever e assim mesmo era considerado pelos colegas um dos mais extraordinários inventores da região.
Tião aplicou praticamente todas suas economias no aparelho, mas ainda possuía um sítio que ajudava a sustentar a mulher e seus 11 filhos. Sebastião Francisco era uma pessoa muito inteligente. Esforçado e curioso, mantinha um salão abaixo de sua residência, com as iniciais A.C.D.A. (Aeroclube de Arujá). Possuía também uma bicicletaria, mas a profissão dele mesmo era motorista de caminhão. No ano de 1972, Sebastião tinha sido convidado para participar do “Programa Show da Loteria”, com o apresentador Silvio Santos na Rede Globo. Os munícipes de Arujá assistiram ao Programa, como se fosse a Copa do Mundo, às 17 horas da tarde. O avião não funcionou na apresentação, mas Tião ganhou um bom dinheiro, com qual pagou suas dívidas pendentes. Assim, quando chegou à sua residência estava lotada de pessoas de toda a região da Cidade, parabenizando-o pelo seu esforço em representar o município em um programa de televisão. Depois apresentou-se no Programa do Chacrinha e do Flávio Cavalcante, virou manchete nas revistas tradicionais da época como “Fatos e Fotos” e “O Cruzeiro”.
No dia 3 de Março de 1973, Sebastião Francisco faleceu vítima de um acidente de trabalho, nas redondezas do Condomínio Arujazinho I, onde estava realizando serviços de eletricista e foi tragicamente eletrocutado ao realizar uma ligação elétrica em um determinado poste; pois um funcionário por descuido, ligou a chave central.
A notícia chocou as pessoas que o conheciam, jornais e revistas da época noticiavam com tristeza este acontecimento que vitimou uma das personalidades queridas da região. Tião deixara a mulher e os 11 filhos, os quais passaram por grandes dificuldades financeiras depois da sua morte. Depois desse trágico acidente o advogado contratado pelo Condomínio, fez de tudo para a família não ter direito à indenização, escondendo por muitos anos a única testemunha do acidente. Os filhos e esposa de Tião sentiram na pele o que era passar as necessidades básicas como uma boa alimentação, por alguns tempos. Procurado, o prefeito à época disse que nada poderia fazer, a não ser dar o nome do Tião a uma rua, o que foi feito pelo Decreto 357 de 1973. A Ladeira Sebastião Francisco fica em frente à EE Dr. Washington Luiz Pereira de Souza, no Jardim Rincão.
O avião com o tempo foi se decompondo, 10 anos mais tarde só restavam a hélice e o motor de Volks, de posse da família até hoje.
A história de Tião sempre fará parte de nossas lembranças.
(Trecho retirado do livro a ser publicado “Arujá de 1560 a 1930” do historiador Afrânio Barreto)
Aéreo Clube de Arujá – Construído por seu
Sebastião Francisco Data: Década de 70 onde
hoje é a empresa Foose.
Apresentação de Tião e o Avião no Programa:
“Show da Loteria” com o Apresentador de
Televisão Silvio Santos – São Paulo – Data: 1972
“Show da Loteria” com o Apresentador de
Televisão Silvio Santos – São Paulo – Data: 1972
avião de Tião – Arujá – Data: 1970
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