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quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Juvenal Barbosa

Brasão de Arujá


            Quando nasci Arujá era uma grande área de mata virgem e faziam parte da cidade os bairros de Aracília e Bonsucesso, que hoje pertencem a Guarulhos. Deve ter sido falha de algum prefeito que deixou escapar estas áreas onde hoje estão instaladas várias indústrias. Era 14 de Novembro de 1928 e meu pai com minha mãe criavam mais três filhos na pequena casa de tijolo com barro no Bairro São Bento, uma grande extensão de terras que englobava o Mirante de Arujá, indo até o Clube Fiscal, na via Dutra, Copaco até o outro lado da Mogi Dutra indo pela Estrada dos Índios. Dentro dessa área existia a Fazenda São Bento, que pertencia aos padres. O meu pai tinha uma área onde plantava feijão, cana de açúcar e milho além de ser tropeiro, conduzindo mais de uma dezena de burros vendendo pinga e farinha pelos diversos armazéns da região indo até Itaquaquecetuba e Itaquera. Quando criança, além de trabalhar na roça, acompanhei muitas vezes meu pai.

            Na década de 1940 meu pai montou um armazém na Estrada dos Índios, na direção do Copaco, onde morávamos. Nessa época o povo de Arujá ganhava algum dinheiro com as culturas tradicionais (milho, mandioca, feijão) e produzindo carvão, com isso desmatando as florestas de Arujá. Acontece que em virtude da II Grande Guerra o combustível era racionado e os automóveis utilizavam carvão, além de ser utilizado nas cozinhas e aquecimento. A procura era muito grande e nas laterais da estrada que ia para Santa Isabel podia-se ver muitos sacos de carvão amontoados a venda. Com isso o desmatamento foi muito grande afetando a Fazenda PL (Jaguari), o bairro da Penhinha e o próprio Bairro São Bento, onde até os padres desmataram boa parte da fazenda para obter algum lucro com a venda do carvão. Mas como naquela época havia muita fartura de árvores este impacto não foi tão sentido.
Bandeira de Arujá 
            Por essa época havia alguns armazéns que abasteciam os diversos lugarejos: no Bairro São Bento havia o do Benjamin Rodrigues Araújo, na Vila Pedroso o do Antonio Bina, no Bairro Pedra Fala o maior era o do Benedito Antonio Mariano, mais conhecido como Benedito Claudino, mas o armazém que tinha a maior variedade e produtos exclusivos, como bicicletas e máquinas de costura, era o do Major Benjamin Franco. Meu pai ganhou muito dinheiro quando tinha o seu armazém na Av. dos Expedicionários, onde hoje está o Delta Despachante, e fornecia aos trabalhadores do DNER que construíam a Via Dutra. Isso foi de 1945 a 1950 até que o DNER montou a sua própria cooperativa. Meu pai construiu uma casa, já de alvenaria, próxima onde hoje é o Rancho da Pamonha, na beira da Via Dutra e vendeu o armazém para o Brás Ferreira. Meu pai vinha às compras na cidade e lembro que levava mais de 40 minutos nesse trajeto. Eu já fazia na metade do tempo pois vinha de bicicleta. Como a Dutra só tinha uma pista, eu me agarrava à traseira dos caminhões que me puxavam na subida com menor esforço.

        Em 1942 comecei a estudar na única escola que havia em Arujá, a Escola Mista, que ficava na Rua Major Benjamin Franco. Só estudei três anos do curso primário. Em 1952 comecei a trabalhar no cartório do Sr. Albino Rodrigues Neves, depois por um ano na Hiper Lubrificantes, que ficava atrás da Rodoviária, até finalmente em 1959 entrar na Pedreira Vicente Matheus, onde trabalhei ao lado do Sr. Vicente, tendo acompanhado o seu crescimento.

           Quando Arujá foi emancipada, o primeiro prefeito, Júlio Barbosa de Souza, veio à minha procura para poder formar o quadro de funcionários. O Júlio disse que não poderia pagar um bom salário, mas que garantiria aumentos conforme o crescimento da arrecadação. O que me convenceu foi o horário de trabalho, das 12 às 16 horas, assim poderia conciliar com o meu trabalho no escritório da Pedreira Vicente Matheus. Dessa forma eu entrava às 6 horas na Vicente Matheus e ficava até as 11 horas, quando almoçava em casa que era praticamente ao lado, ia de bicicleta até a Prefeitura onde entrava às 12 e ficava até as 16 horas. Retornava à Pedreira e ficava até enquanto havia trabalho a fazer. Com o aumento da carga horária na Prefeitura decidi deixar a Pedreira em 1962.

       No início eu era o responsável pela Junta de Serviço Militar, mas fazia parte da contabilidade, do Departamento Pessoal, tirava Carteira de Trabalho e até pintava os letreiros dos caminhões da Prefeitura, pois sempre tive boa mão para pintura de placas.

               Em 1968, já com 39 anos, eu fiz um teste para concluir o curso ginasial, pois só tinha o primário. Comigo também fizeram o teste o José Barbosa, o Ditinho Coutinho, o Geraldo Barbosa, a Ediene Faria, o Benedito Luiz Fernandes, o Eriberto Afonso de Lima. E fomos terminar o ginasial no Washington Luiz Pereira de Souza. Já naquela época alguns nem se preocupavam em dar continuidade aos estudos pois se consideravam herdeiros da riqueza do pai, e não precisariam trabalhar. Passei a estudar em 1972 no René mas interrompi meus estudos quando me casei em 1975 com Maria Luiza que era professora em Arujá, vinda de Aparecida do Norte.

            Nesse mesmo ano, que era o último da gestão do Prefeito Benedito Manoel dos Santos, este pediu que eu criasse uma bandeira para o município, pois sabia que eu desenhava muito bem. Até aquela época o município tinha somente o brasão, criado em 1964 por um integrante do Lions Club de Arujá. O prefeito por algum motivo fazia questão que eu usasse as cores azul anil e branco. Quando o prefeito viu o primeiro dos quatro esboços já o aprovou sem dar maior atenção aos demais. Era 14 de Novembro de 1968, dia do meu aniversário, que podemos considerar como o dia da Bandeira de Arujá.

            Sempre no Departamento Pessoal da Prefeitura, trabalhei com diversos prefeitos até me aposentar como Diretor de Planejamento em 1998 na gestão do prefeito Toninho da Pamonha. Na minha opinião o melhor prefeito foi o François que tinha uma visão de futuro sem igual. O Beijo foi melhor na primeira gestão, porém na segunda vez em que foi prefeito, na década de 70, ele solicitou aos funcionários da prefeitura que formassem uma comissão para discutir os reajustes salariais que até essa época eram vinculados ao salário mínimo vigente. Para desonerar a Prefeitura foi decidido que todos os funcionários, exceto aqueles que tinham mais de 5 anos de casa, seriam regidos pela CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) o que significava que não perderiam nenhum benefício, porém a aposentadoria seria proporcional e não integral como a do funcionário público.

            Depois da aposentadoria me dediquei à pintura, mas hoje os olhos já não ajudam muito. Eu e a Maria Luiza tivemos a Juliana, a Luciana e o Ricardo que nos deram três netos. Arujá é maravilhosa, portanto vamos cuidar desta nossa terra com muito carinho e principalmente da gente desta terra.

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