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terça-feira, 9 de agosto de 2011

Ladislau de Rossi

Ladislau de Rossi, mais conhecido como Lau
   Sou neto de italianos, imigrantes que vieram trabalhar nas fazendas de café em Ribeirão Preto. Meus pais, Eugênio de Rossi e Inez, brasileiros, casaram-se em Mococa e depois se instalaram em Assis (SP) juntamente com meus avós paternos e 4 tios solteiros, irmãos de meu pai, com a finalidade de desbravar as terras compradas para formação de cafezais. O café era a riquezas da época.
     
   Nasci em 27 de Junho de 1925, dia de São Ladislau, Na época o município chamava-se Campos Novos, distrito de Assis, mas hoje é denominado de Oscar Bressane, pequena cidade entre Assis e Marília. Lá fiz o grupo escolar e fui ginasiano em Assis e Botucatu, terminando o colegial em São Paulo. Em Oscar Bressane trabalhei com meu pai no comércio e indústria do café, atividade em que ele progrediu financeiramente.
         
   Como para ter estudos com maior qualidade a única saída era a Capital, São Paulo, vim de início e depois outro irmão, e por fim toda a família. Meu pai, que havia vendido as terras, queria se instalar em um lugar onde pudesse dar continuidade àquela vida de roceiro, criando vacas e cuidando das plantações. Eu que já trabalhava num banco não o contrariei e assim em 1955 meu pai através de um anúncio num jornal comprou uma área de cerca de 8 alqueires na região da Penhinha, em Arujá, onde tínhamos algumas vacas e vendíamos leite e produzíamos manteiga e queijo. Com o dinheiro da indenização do meu trabalho no banco comprei um teodolito. Para quem não sabe, teodolito é um aparelho para se fazer medições das áreas de terras, ofício que aprendi ajudando um engenheiro amigo nas minhas horas vagas quando morava em São Paulo.

   Como uma criança com seu brinquedo novo eu ostentava o instrumento fazendo medições na área de meu pai após os serviços na roça. Foi uma propaganda feita por mero acaso, pois logo os vizinhos comentaval que havia alguém que media as terras. A notícia se espalhou e a falta de profissionais logo me tornou muito solicitado. Comecei a medir as áreas sob a orientação do engenheiro amigo, Carlos Paulo Ferreira, que inclusive foi sob a minha indicação o primeiro engenheiro contratado pelo Prefeito Benjamin Manoel na  recém criada Prefeitura Municipal de Arujá.
           
   Eu media terrenos para que fossem feitas as escrituras, memoriais descritivos para as legalizações e negociações dos sítios. Cheguei a ser nomeado perito junto ao Banco do Brasil e Poder Judiciário. Na área urbana demarcava lotes e fazia projetos onde o engenheiro assinava para poder dar entrada no setor de obras da Prefeitura.
          
   Tenho quatro diplomas na área de exatas, conquistados um pouco à distância, um pouco estudando em casa através de livros. Nenhum destes diplomas me confere direitos ou regalias, mas me acrescentaram um pouco de saber e me trouxeram muita alegria entre as muitas lições de vida. Minha paixão são os cálculos, tornei-me quase um engenheiro civil na prática. Sempre estudando sozinho credenciei-me no CREA em 1962 e medi áreas em Arujá, Santa Isabel e Itaquaquecetuba. Nesse mesmo ano casei-me com Isaltina Lopes de Rossi, mais conhecida como Nenê. Nenê, nascida em Arujá, é filha do Narciso José Lopes, muito conhecido pelos antigos na cidade por seu trabalho como tropeiro, além de ter sido varredor de rua e acendedor dos lampiões nas ruas. Criamos nossos quatro filhos: a professora Dagmar Aparecida da Silva, Dorival José da Silva, mais conhecido como Dorival “Cabrinha”, o político da família, a professora Pérola de Rossi e a engenheira civil Alba de Rossi.
         
   Demarquei lotes em todos os loteamentos de Arujá, sendo um dos mais antigos o Vila Flora Regina, bem no centro da cidade, onde está localizada a Prefeitura e a Praça Benedito Ferreira Franco, cujo nome homenageia o primeiro topógrafo de Arujá, pai de Flora Regina, esposa do Prefeito Abel Larini. Antigo também é a Vila Lima, onde está localizada a Delegacia. Naquela época para se tirar a cópia de uma planta só em São Paulo. Havia também o Jordanópolis, mas havia muita dificuldade para a demarcação dos lotes, pois não havia uma regra profissional de medição. Finalmente iniciei as demarcações partindo de dois piquetes que encontrei, o que facilitou o encontro dos lotes e a ocupação pelos compradores. Como as medições antigas eram feitas na base do “barbante”, havia muita sobra de área nos loteamentos. As medidas nunca batiam. As áreas eram vendidas com muitas irregularidades nas medições o que dava margem para muitas trapaças, além de pessoas espertas enganarem as pessoas simples com a conivência dos órgãos responsáveis. Nos tempos antigos, as pessoas muito devotas doavam parte de suas áreas para a Igreja, cujas terras eram denominadas “terras do santo”. As pessoas eram proprietárias de muitos alqueires de terras e doavam pequenas áreas para que fossem utilizadas pela Igreja, porém alguns padres e Bispos chegaram a negociar as terras e outros acabaram cercando e dizendo-se donos, tendo tido alguns notáveis “grileiros” e invasores que simplesmente ocupavam as terras, cercando-as, e em tom de brincadeira dizia-se que as escrituras eram feitas “no céu”. Toda essa área descrita como “terra do santo”, mas que na realidade era uma “terra sem dono”, vai da Câmara Municipal até a Via Dutra, tendo sido uma parte desapropriada para ser instalada a Sabesp. Havia uma grande fazenda, a Fazenda Rincão, que hoje está dividida entre o Jardim Rincão, Condomínio Arujá 5 e o Jardim Fazenda Rincão.
            
   O Arujamérica foi loteado pelo Heitor Jacintho, porém a medições eram muito rudimentares o que levou a erros nas medições dos lotes. Muitas áreas vendidas estão irregulares, não só no Arujamérica como em vários outros loteamentos, o que dificulta a regularização dos lotes. Uma parte dessa culpa cabe aos prefeitos da época pois foram autorizadas construções pelos mesmos sem as devidas fiscalizações. É óbvio que não havia também pessoal suficiente para essas fiscalizações.
            
   Outro loteamento que teve uma aprovação muito nebulosa foi o Parque Rodrigo Barreto. Na época que a família Colângelo vendeu a Fazenda Matão para os proprietários dos Doces Bela Vista eu fui contratado para fazer a medição e medi mais de 100 alqueires. Meus auxiliares na época foram o meu filho Dorival “Cabrinha” e o Lino “Cafezinho”. De início a idéia era fazer um loteamento com chácaras de 2.000 m2 cada preservando-se a área verde, o que já era um erro, pois é área de mananciais, porém após ser vendida para a Imobiliária Continental tudo foi desmatado e a cota de 30% destinada a ruas, praças e utilidade pública é bem discutível. A maior parte dessa área é inutilizável, visto estar debaixo dos fios de alta tensão, proibindo a instalação de imóveis, praças ou áreas de lazer. Essa área é uma faixa de cerca de 140 metros de largura por mais de 1.700 metros de comprimento que na época da aprovação constou na planta como “sistema de recreio”.
            
   Ah, ia me esquecendo. Também participei da política tendo sido um dos fundadores do PDT (Partido Democrático Trabalhista) no município. O PDT é aquele do saudoso Leonel Brizola a quem acompanhei em muitas reuniões e comícios. Fui candidato a prefeito de Arujá no ano de 1982 tendo como vice o Jorge Hirose, eleição que teve como vencedor o Toninho da Pamonha.
            
   Desta cidade que tanto amo, o que mais me cativa é a minha observação do ser humano arujaense, homem sincero, honesto, simples no tratamento com o seu próximo, com a preocupação de ser justo com todos e esperar este mesmo tratamento. Nos meus 86 anos de idade e experiências uma passagem nunca vai sair da minha cabeça. Certa altura fazendo um trabalho num sítio observei que o Sr. João vendia a barrica de mel a um preço que era muito barato. Eu acostumado a ver os comerciantes querendo cada vez mais lucros perguntei porque ele não aumentava o preço do produto. E ele me disse: “Da última vez que eu aumentei o preço do mel até as abelhas foram embora”. Ou seja, as abelhas não concordaram com a exploração feita aos clientes. Este é o povo que aprendi a conhecer em Arujá, cidade que adoro.

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