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terça-feira, 23 de agosto de 2011

Katsuya Araki


            Anualmente é realizada uma prospecção de administradores e empresários de destaque nas mais diversas áreas econômicas formados pela Universidade de Agronomia de Tokyo (Tokyo Nodai). O objetivo é premiar homens dotados de competência e mentalidade que atuem como administradores, gestores, pessoas de negócios em empresas do setor de bionegócios. Entre os premiados há pessoas que emigraram sozinhos para o exterior e, após dificuldades e frustrações, alcançaram o sucesso como empresários nikkeis. No ano de 2001 o grande premiado foi o Sr. Katsuya Araki.

            No tocante a relações com o Japão, cita-se o recebimento de emigrantes desde o início do século XX. Já em 1908 iniciava-se a colonização pelos imigrantes do café. Depois da segunda guerra mundial a imigração passou a incluir, além da agricultura, a imigração tecno-industrial. Atualmente o Brasil possui a maior comunidade de origem japonesa em todo o mundo, com 1 milhão e 300 mil pessoas. Atualmente, as comunidades nikkeis de países com longa história de emigração, como o Brasil e o Peru, já têm nisseis e sanseis (respectivamente filhos e netos de emigrantes oriundos) atuando em áreas tão diversas como o comércio, indústria e profissões liberais, além da política.

            Katsuya Araki nasceu no interior do Japão, em Yamagata, em 24 de Outubro de 1937, 13º e último filho da família. No colégio tinha um sonho: morar em algum lugar no exterior. Para tal formou-se pela Universidade de Agronomia de Tokyo no curso de Colonização Agrária em 1961, vindo ao Brasil no mesmo ano como “emigrante jovem contratado”. Um ano antes de sua formatura, vivenciara um estágio agrícola na fazenda Chino, em San Diego, Califórnia, Estados Unidos.

            “O estágio agrícola na Califórnia foi particularmente significativo. A emoção de um jovem ainda de cabelos meio raspados, que nada sabia de nada, recém chegado ao quarto ano da Universidade de Agronomia de Tokyo, ter a oportunidade de juntar-se a jovens agricultores do país inteiro para estagiar nos EUA foi sem dúvida imensa e mudou significativamente a minha vida. Nos Estados Unidos toda a atividade agrícola já era realizada em moldes empresariais, o que me surpreendeu muito.”

            “Na Califórnia, eu estive durante uns quatro meses com um mestre que muito me ensinou, o Sr. Junzo Chino, que me disse que a agricultura até agora sempre teve um quê de jogo de azar. Daqui para a frente, reúna informações, pesquise, investigue, deixe tudo preparado para só então fazer a coisa certa.”

            “Eu me mudei para os arredores de São Paulo em 1961, e trabalhei como agricultor empregado durante 3 anos em duas fazendas diferentes. Aos poucos fui adquirindo independência, casei com Makiko e tive filhos. Apesar disso, os frutos do trabalho demoravam a aparecer. Quando eu estava para desistir, um amigo dos Estados Unidos me mandou umas fotos dizendo “pode não estar fazendo sucesso aí, mas temos isso por aqui”. Elas mostravam o cultivo de crisântemos em vaso e de cultura ao longo de todo o ano. Achei espetacular, e como nada disso existia no Brasil, fui voando para os Estados Unidos, onde comprei as informações e as mudas. Foi o início da minha vida agrícola no Brasil.”

            Araki arriscou-se em 1964 a alugar uma propriedade em Santo Amaro, na cidade de São Paulo, para nela instalar a Floricultura Araki. Pouco depois, comprou a propriedade atual, na divisa com Itaquaquecetura, com área de 12 hectares, 5 dos quais de estufas. Nela iniciou a produção de crisântemos de vaso (potmums), que cresceu até atingir 100 mil vasos anuais.

            Em 1990 iniciou a cultura iluminada de crisântemos ocupando 3 hectares. Em 1993 já consolidara uma estrutura produtiva que permitia a produção anual de 400 mil vasos de Spathiphyllum, e mais Kalanchoe, Poinsettia, Anthrium, etc., simultaneamente com cultivo e despachos ao longo de todo o ano.

            “Desde então tenho tido a oportunidade de manter contatos com muitas e muitas pessoas na Holanda, na Colômbia, no Equador, na Argentina, com as quais tenho trocado informações. E seguir o compromisso firmado entre mim e minha esposa de sermos o número 1 no Brasil, em qualidade e em quantidade.”

            Em 1996 introduziu a orquidocultura de espécies ocidentais, exportados para a América do Norte. Na mesma época foi iniciada a cultura de Dendrobium Phalaenopsis na Amazon Orquid, fundada em 1991 na cidade de Manaus, em estufas numa área de 6 ha e produção anual de 2 milhões de unidades, destinadas à venda direta para a Europa.

            Araki tem, portanto, um trabalho destacado não só como floricultor como também em atividades para a comunidade. Além de ter presidido a AFLORD (Associação dos Floricultores da Região da Via Dutra), entidade criada em 1981, presidiu a Associação dos Produtores de Flores do Estado de São Paulo em 1993, entidade que reúne cerca de 400 produtores nipo-brasileiros, a Associação Cultural Nipo-Brasileira de Arujá (Kaikan) e a Associação da Província de Yamagata no Brasil (Kenjinkai).

            A filosofia administrativa do Sr. Araki consiste em gerenciar a redução de custos através da produção em grandes quantidades, conciliando o provérbio do comerciante: “Medir o que entra, conter o que sai.”

            O setor floricultor é o mais avançado dentro da agricultura em termos de globalização. Dominar 2 ou 3 idiomas é requisito mínimo, e operações pela Internet já são praxe.

            As tendências de moda são praticamente as mesmas nos países desenvolvidos. O Brasil é um país com muitas etnias latinas, e dá preferência a flores coloridas e com intensidade vívida. Uma outra característica é a preferência por espécimes menores. Atendendo a essas tendências, a floricultura iniciou a venda de vasos de hidrocultura, pequenos, leves e em recipientes atraentes.

            São sucessos de venda: samambaias, crisântemos de vaso (potmums), plantas ornamentais, Kalanchoe, Spathiphyllum, antúrios, comigo-ninguém-pode, as orquídeas Dendrobium e Oncidium, vasos de hidrocultura, etc.

            A essência da sua administração está nas relações interpessoais. Araki possui estreitos laços com agricultores especialistas em floricultura no Japão, especialistas e técnicos das universidades e laboratórios agronômicos dos governos provinciais.

            À medida que a concorrência com outros produtores ia se acirrando, Araki acreditava que a chave para a sobrevivência consistia em formar um grupo de produtores grande o suficiente para permitir a especialização e a adoção de uma marca forte. A conseqüência natural foi então estreitar os laços com os demais produtores e elevar o nível técnico geral. Araki chegou ao desenvolvimento de fertilizantes adequados ao cultivo de flores e de controles eficientes de pragas.

            Assim consolidadas a adubação e o combate a pragas, influenciar floricultores próximos foi fácil. Aos poucos, o nível técnico de toda a região aumentava e a qualidade se estabilizava. Com a compreensão da comunidade, em 1981 era fundada a Associação dos Floricultores da Região da Via Dutra (AFLORD), reunindo floricultores de sete municípios. Estagnar-se significava perda do quadro de associados. A fim de divulgar amplamente entre os associados as informações e o desenvolvimento de tecnologias e ao mesmo tempo para incentivar a competição entre os associados, o Sr. Araki planejou a “Festa das Flores” de Arujá, evento de confraternização centralizado no desenvolvimento conjunto, realizado desde 1991. A primeira exposição foi realizada nas piscinas do Clube União Arujaense e logo depois em recinto próprio na Estrada da PL onde em 2010 contou com a 19ª edição.

            A contribuição de Katsuya Araki para a cidade de Arujá não parou por aí. Quem não conhece a Feira das Nações, realizada anualmente em junho durante as comemorações do aniversário de Arujá? Ela começou por uma iniciativa de Araki quando este era presidente da Associação Cultural de Arujá (Kaikan) e que para arrecadar fundos montou juntamente com Shigeru Araki (ex-vereador) e o Sr. Shimiyo, além de outros membros da colônia japonesa, uma barraca para vender quentão e outras “comidinhas”. No ano seguinte já havia as barracas japonesa e portuguesa.

            Na gestão do ex-prefeito Genésio este solicitou à colônia que em comemoração aos 100 anos da imigração japonesa deixassem alguma marca na cidade. Assim o Sr. Araki providenciou a plantação de cerejeiras na Av. Pinerollo, contando com a ajuda do seu grupo sempre muito unido.

                        As quantidades e valores transacionados têm aumentado nos últimos anos, levando a demandas por um centro de distribuição próprio, bem como a instalação de locais para comercialização regionais. Atualmente o volume transacionado é de cerca de meio a meio entre o Ceasa e as vendas diretas na propriedade, embora haja um aumento das vendas por catálogo e pela Internet.

Está em curso uma forma de mercado de distribuição que almeja para o futuro ser uma base de operações para todo o mercado sul-americano. Trata-se da Cooperativa Agrícola Flores de São Paulo, fundada em 19 de Julho de 2001, da qual também foi o primeiro presidente.

            O epicentro dos trabalhos da cooperativa é um mercado que, ao contrário das negociações tradicionais ou por consignação, trabalha em regime de leilão. Será um enorme centro de distribuição com área total de 106 mil m2 e área construída final de 20 mil m2, situada na Estrada do Taboão, na Mogi Dutra, divisa com Mogi das Cruzes.

            “A Cooperativa tem atualmente 70 membros e espera que, com uma gestão que leve em consideração a sua sustentabilidade, possa ampliar o seu quadro de cooperados para 300 a 400 membros, equivalente a cerca de 30 % dos floricultores nikkeis espalhados por todo o Estado, equivalente a cerca de 1500 produtores. A chave do sucesso desta Cooperativa está em construir uma relação de confiança entre o produtor e o consumidor.”

            “Dificuldades em achar sucessores para as famílias agricultoras não são de hoje. Nesse setor, que não permite a presença empresarial, o know-how peculiar de cada região, cada produto, etc., está destinado a desaparecer se não for herdado de pai para filho.”

            Nisseis e sanseis estarão atuando na agricultura e também em outras áreas da economia, mas os jovens custam a entender tudo aquilo que nós, japoneses natos, vivenciamos. Da população nikkei do Brasil, 260 mil estão hoje no Japão como dekasseguis. Isso não pode continuar assim para sempre. Foi para fazermos alguma coisa que criamos a Cooperativa Agrícola, com o objetivo de fazermos algo em relação aos canais de comercialização, e também para introduzirmos novas tecnologias. Creio que essa será a minha última grande aposta. Tenho cinco décadas de Brasil, e a firme convicção de fazer tudo o que estiver ao meu alcance pelo país e, ao morrer, passar a fazer parte desta terra.”

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